O risco das fake news

Autor: GLAUCO GUMERATO RAMOS

Você sabe o que é “pós-verdade”? Pois é. Trata-se da narrativa distorcida dos fatos, que basicamente avança de duas formas. Ou se cria uma versão fática sobre fatos inexistentes, ou se extrai uma versão fática diversa daquela ocorrida a partir de um fato. Nos dois casos trafega-se fora da verdade. Assim entendida, a pós-verdade é a não-verdade, a inverdade, a mentira.

O objetivo básico dessa estratégia é aprisionar a nossa atenção diante de nossa própria desatenção. Os fatos gerados pela estratégia da pós-verdade é o que modernamente chamamos e conhecemos por Fake News, ou seja, notícias falsas. Todos os dias vê-se uma infinidade delas viralizando nas redes sociais.

São narrativas fáticas que, acompanhadas de imagens reais ou criadas, apelam ao lado mais irracional de nossa compreensão sobre as coisas. O resultado disso é que as fake news transformam as pessoas em presas fáceis.

Mas afinal de contas, por que se dá espaço para que notícias falsas se imponham como verdade? Por que se crê e se difundi certas narrativas que não ficariam em pé diante de dez segundos de racionalidade? Por que a pós-verdade encontra nas redes sociais a terra lavrada de que precisa para germinar?

As redes sociais abriram espaço para uma liberdade de expressão jamais vista. Por seu intermédio fala-se, escreve-se e reproduz-se qualquer tipo de informação.

As redes sociais, não há dúvida, mostram-se um terreno fértil às estratégias da pós-verdade e das fake news por ela gerada. Se bem pensadas as coisas, o que se lança ao vento ou se replica numa rede social nem sempre o seria feito nas relações cotidianas entre as pessoas, no olho-no-olho, no tête-à-tête. Ainda bem!

As notícias falsas que muitas vezes nos iludem surgem por dois motivos facilmente identificados: i) má-fé dos que compartilham mentiras, e ii) falta de reflexão sobre o lixo eletrônico recebido. E, no mais das vezes, os múltiplos compartilhamentos são estimulados em decorrência da credibilidade atribuída ao remetente, sem qualquer verificação da idoneidade da fonte.

É importante que chequemos a origem e o conteúdo das informações virtuais que recebemos antes de, no impulso, replicá-las. A vida, a reputação das pessoas em geral e de empresas podem vir a ser atingidas por nossas atitudes, ainda que não nos atentemos para isso.

O sistema jurídico brasileiro, agora incrementado pelas regras impostas pela Lei de Geral de Proteção de Dados, a chamada LGPD, a qualquer momento poderá se voltar contra nós se insistirmos em difundir fatos falsos que possam atingir os outros, pois trouxe marcos importantes na evolução da era da informação.

Para evitarmos que isso aconteça, será sempre melhor refletir e checar antes de simplesmente replicar as pós-verdades que nos iludem. Por traz de uma notícia falsa está uma estratégia de dominação que pretende, e muitas vezes consegue, nos aprisionar.